AS ZULMIRAS
Nunca se chamam assim. Chamam-se Carlas Vanessas ou Rubens Filipes ou coisa assim... e odeiam. Odeiam os pais que lhes deram um nome que começa pela última letra do alfabeto, ainda que não seja exactamente assim e mesmo que fosse, do fim da fila avistam-se coisas que os primeiros nunca verão. O "Z" morde-lhes no estômago como uma injustiça. Não suportam que ninguém saiba quem "elas" são; que os seus esforços artísticos não sejam mais apreciados que uma cagadela de mosca; que a sua ausência de beleza e de talento as lance irremediavelmente para os últimos lugares de tudo. As "zulmiras" quando são homens, atiram pedras, escondidos atrás de árvores ou de carros estacionados; atrás das coisas que nunca irão a lado nenhum. Quando são mulheres, atiram calúnias, frases cheias de subentendidos; manobram na sombra até que todos odeiem os seus alvos tanto como elas. Nunca dizem alto o nome. Nunca mostram o que sentem, a não ser aos seus "amigos", que são forçados a aturar-lhes as vulvas secas e as mãos com calos em sítios precisos, em longos telefonemas, a horas impróprias. As "zulmiras" não produzem: destroem. Matam a beleza com o seu medo do escuro. As "zulmiras" são seres patéticos que vão morrer como todos nós.
A única diferença é que morrerão sozinhas.
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